A história do Brasil conhece dois bandeirantes com o nome de Bartolomeu Bueno da Silva: pai e filho – fundador de nossa amada Mogi Mirim.
Foto Bartolomeu Bueno da Silva (Pai)
Bartolomeu Bueno da Silva (pai), o Anhangüera, nascido e morto em datas incertas, faz parte daqueles primeiros bandeirantes que, movidos pelas dificuldades econômicas, pelo tino sertanista e pelo espírito de aventura, partiram de São Paulo – aproveitando-se, inclusive, da localização geográfica da vila, que se assentava num centro de circulação fluvial e terrestre – para desbravar o interior do Brasil.
Desde os primeiros tempos da colonização foram constantes as arremetidas rumo ao sertão. Primeiro, numa espécie de bandeirismo defensivo, que visava garantir a expansão e a posse da terra, e que prepararia a expansão paulista do século 17, o grande século das bandeiras, aquele em que se iniciaria o bandeirismo ofensivo propriamente dito, cujo propósito era, em grande parte, o lucro imediato proporcionado pela caça ao índio. Da vila de São Paulo, especialmente, partiam as bandeiras de apresamento chefiadas por Antônio Raposo Tavares, Manuel Preto, André Fernandes, entre outros.
O apogeu do apresamento ocorreu entre 1628 e 1641, quando os paulistas resolveram arremeter contra as reduções jesuíticas espanholas, em volta das quais se agregavam centenas de indígenas sob proteção missionária.
Gradativamente, esses sertanistas passariam do bandeirismo de apresamento para o bandeirismo minerador, em busca de minas de ouro. É nessa época que se encontra a principal bandeira de Bartolomeu Bueno da Silva. Em 1682, sua expedição partiu de São Paulo e atravessou o território do atual Estado de Goiás, seguindo até o rio Araguaia. Ao retornar desse rio, à procura do curso do rio Vermelho, encontrou uma aldeia indígena do povo Goiá. Diz a lenda que as índias estavam ricamente adornadas com chapas de ouro e, como se recusassem a indicar a procedência do metal, Bartolomeu Bueno da Silva pôs fogo a uma tigela contendo aguardente, afirmando que, se não informassem o local de onde retiravam o ouro, lançaria fogo em todos os rios e fontes. Admirados, os índios informaram o local e o apelidaram de Anhangüera (em tupi, añã’gwea), diabo velho.
Ainda segundo a lenda, seu filho, Bartolomeu Bueno do Silva, à época ainda um menino, o acompanhava nessa bandeira.
Foto Bartolomeu Bueno da Silva (Filho)
Em 1701, atraído pelos descobrimentos de ouro na região de Minas Gerais, o segundo Anhangüera estabeleceu-se em Sabará e, mais tarde, em São João do Pará e em Pitangui, onde foi nomeado assistente do distrito. Os conflitos entre emboabas e mineradores de São Paulo e os levantes ocorridos em Pitangui, encabeçados por seu genro Domingos Rodrigues do Prado, levaram-no a voltar para a capitania de São Paulo e a se fixar em Parnaíba.
Em 1720 dirigiu uma representação a Dom João V, pedindo licença para voltar às terras de Goiás, onde seu pai encontrara amostras de ouro. Em troca, solicitava do soberano o direito de cobrar taxas sobre as passagens de rios.
Em 1722, quarenta anos mais tarde, o filho de Anhangüera, já com 50 anos, partiu de São Paulo com a intenção de novamente se embrenhar pelo sertões que antes percorrera com seu pai. Sob seu comando, a bandeira hospedou-se no já formado Arraial de Mogi Mirim (conforme nosso brasão) para descanso, alimentação, preparativos e seguiu para Goiás, juntamente com numerosa parentela do sertanista, que, durante quase três anos explorou os sertões goianos em busca da lendária serra dos Martírios. Chegaram a fundar um núcleo chamado Barra, que em 1727 foi transferido para as margens do rio Vermelho com o nome de Santana, mais tarde se tornando a Vila Bueno, que hoje é a cidade de Goiás.
No entanto, a pretexto de que o Anhangüera havia sonegado as rendas reais, o direito de passagem lhe foi retirado em 1733. Na medida em que se organizava a administração estatal de Goiás, a autoridade do sertanista ia sendo limitada pelos delegados régios. Ao falecer, em 1740, Bartolomeu Bueno da Silva estava pobre e reduzido a um exercício de mando quase decorativo.
Bartolomeu Bueno da Silva foi o último dos grandes bandeirantes que desvendou os caminhos para o oeste tornando conhecido o alto sertão brasileiro.
Foto Monumento às Bandeiras -SP
Monumento às Bandeiras, obra de Victor Brecheret erigida no Parque do Ibirabuera em São Paulo. Representa a memória ao bandeirante português e ao guia índio. Há também a representação de outras raças que participaram das bandeiras, como os negros e mamelucos, todos numa união de forças para carregar a canoa das monções.